sexta-feira, 21 de junho de 2013

A fantasia está rasgada.

Brasília, 20 de junho de 2013.

Dizem que nossos olhos nos enganam. Que vemos o que queremos ver. 
Que vemos o que somos e não a realidade. Não sei, talvez seja verdade. 
Esse é o relato sobre o que vi ontem, em Brasília. 




Tomei banho, vesti jeans, camisa branca e fiz da bandeira nacional minha capa. Saí de casa andando. Metade de mim satisfeita, metade preocupada. Era O dia em que as ruas decidiriam a que vieram. E se estavam sob o manto escarlate do PT (PSTU, PCO, PCR, etc) ou não. Apostava que não. Torcia para que não. Era dia de dar a cara ao tapa. Another day... (não sei porque a voz do Paul MaCartney cantando essa musiquinha deprê entrou na minha cabeça desde ontem e não sai... preciso formatar o hd, parece vírus)

Durante a caminhada até o Congresso Nacional fui abordada por uma senhora dentro da rodoviária (sei que pra quem é de fora é difícil entender... mas faz parte do caminho, ok?). Quase engasguei de rir, mas me segurei. Ela veio toda afobada me perguntando se ia para a manifestatação (sim), se tinha fazia parte de algum movimento social (não!), se tinha ou era lider de algum grupo (não e não). Aí, brava resolveu me dar uma aula sobre a importância de se seguir um líder, de ter a proteção de uma organização, de isso & aquilo... Oh, vida cruel. Quem nasceu pra gado não sabe mugir sem a ordem de um capataz, não é? Deixei ela falando por alguns minutos, sou uma pessoa quase paciente e quase boa, e estava com um bom humor incrível. Só que isso passou rapidinho, rs. Encerrei logo o assunto informando pra cidadã que o que achava mais bonito dessa manifestação é que ela não tem líder, não tem dono, e que está ali segue apenas sua própria consciência e coração.
Virei-me e segui...

Confesso que já passei da idade de ser doutrinada. Conheço o discurso, todos os chavões e o canto da sereia socialista. Entendo quem se deixa seduzir, faz parte, acontece nas melhores famílias. Já contei que quase fui comunista? É... era fã do Roberto Freire. Ainda o respeito e até sigo-o no Face. Cheguei a consolar conhecidos que ficaram de #mimimi sobre como o povo nas ruas agora ousa renegar bandeiras e partidos (de esquerda) que estavam nas ruas desde antes do curupira piar... lutando pelo país, bla bla blá. Ei, acorda! Vocês não estavam defendendo o país, estavam defendendo ideais que não eram (nem são... oies!) o que o povo quer. Vocês não enchiam as ruas antes... digam, sinceramente quantos 100, 400, 800 pessoas o MPL conseguia juntar nos anos anteriores? Daí, da noite pro dia... o número se multiplica e vocês pensam que estão comandando alguma coisa. Ei, era pra estranhar, não era? A turma gritava que não era por vinte centavos... Não culpem os outros por sua surdez ou cegueira. Um pouco de humildade nessa hora faz bem. Continuar pensando que controlam a massa é ilusão. Massas são por definição... incontroláveis. Vocês chamaram mas - atenção! - os que foram pra rua foram para lá por outros motivos. E não porque  estavam afinados sua "pauta". O povo saiu do sofá pelo que realmente importa: a realidade. É essa triste realidade que está aí, atropelando o país de norte a sul...
A negação do fato só faz piorar a situação. Tem gente boa por aí se sentindo traída pela massa, "estranhando" e se lamuriando que não aceitem seu mando. Chego a ter dó do MPL, abriram sem querer uma caixa de pandora. Sentem, analisem, sejam humildes, meninos... e avaliem onde erraram. Não sei a resposta tampouco. Estou procurando tanto quanto vocês. Talvez seja só a volta da inflação combinada com os altos impostos, ou o cansaço depois de 10 anos de esquerda no poder, ou a percepção de que o des-governo e a incompetência jogou fora mais uma década de trabalho e suor, ou... ah, sei, vocês dirão que não foi o PT que inventou a corrupção. Sei disso, todo Brasil sabe. E sabemos também que o PT (et caverna) recriou a corrupção, elevando o nível da roubalheira a patamares... olímpicos, por assim dizer.

Assim que cheguei em Brasília, no início do ano, abestalhei-me (palavra cirurgicamente escolhida) com o novo estádio nacional (neo Mané Garrincha). Desde então chamo-o nada carinhosamente de Coliseu. Defronte do palácio do Buriti (governo do distrito federal) há uma réplica da Loba com Rômulo e Remo, presente da cidade irmã Roma. A imagem que sempre me vem a mente quando vejo aquela imbecilidade  recém construída e mega superfaturada  é de Nero tacando fogo na sua capital. Ontem a esplanada pegou fogo. Os pequenos neros que faltavam para completar meu pesadelo... estão soltos.

Lembram de A vida é bela X A vida como ela é?  Então... Nelson Rodrigues sabe mais de nós do que muitos outros. Urge reler o safado (sei que pra ele isso é elogio).

Não é por nada que a geração do vinagre está com nojo de qualquer legenda partidária. Ela não é facista (a acusação de sempre...) nem alienada de percepção histórica-social... ela não é anti-política. Ela é apolítica e motivos não faltam para tanto. É por isso que ela não aceita líderes, ou "pauta" ou tem se recusado a sentar para negociar. O que ela pede é inegociável. São princípios e valores que não podem ser postos numa mesa para debate. É possível transigir sobre a prisão dos mensaleiros? Ou com o fim da corrupção? Ou com a urgência de solução para a educação, saúde, segurança? Ou com a melhoria imediata dos serviços públicos? Não, não é.

Para quê líderes? Minha geração bateu palmas para alguns hérois. Um deles se chama Lindberg Farias e hoje está no senado federal abraçado ao Collor. Espero que isso sirva de lição para os que estão aí... doidinhos pra "organizar" a manifestação, "estabelecer" um pauta, "escolher" representantes para sentar na famosa "mesa de negociações". No minuto que fizerem isso, perderam. Se perderam. Espero que resistam à tentação. Sente-se numa mesa com Lula (ou um imediato deste) e antes de piscar duas vezes terá vendido sua alma e dado a da sua mãe como garantia. Só há um jeito de vencer... e é não aceitando o convite.  Não é preciso se preocupar. Quem está lá dentro do Congresso Nacional e dentro de qualquer outro palácio pelo país afora... sabe muito bem o que o povo quer e exige. Não são burros. Eles estão com medo.
Medo porque justamente não conseguem... fazer negócio com as ruas.

Talvez haja uma anarquista bem lá no fundo de mim. E talvez ela esteja feliz com tudo isso. Meu São Miguel Arcanjo, proteja-me de mim mesma. Ah, lembrei. Não dá pra ser anarquista. Afinal carrego a bandeira nacional. Nenhum anarquista de respeito comete esse sacrilégio.

Sobre fascistas. Chega a ser cômico. No face tenho amigos de direita acusando os radicais de esquerda de fascistas. E na contramão tenho amigos de esquerda fazendo a mesma acusação para os da direita. Eita, parece que estou vendo até a cara do Mussoline nessa batata quente. Vamos combinar algo? Ninguém é fascista. Ou todos o somos!

Agora, voltando aos fatos...
Em volta do Museu Nacional a moçada ia se juntando. Fiquei por ali apreciando, ouvindo e tentando montar o quebra cabeça do ano (da década?). Sinto não ter fotos do dia para mostrar... com o Rui Falcão (eca) e o Haddad (eca, argh, eca) chamando seus tontonmaCUT e cia pras ruas, achei por bem manter minha amada canon a salvo, em casa. Just in case. É, não sou de todooooooooooo irresponsável. Deixei a filha também, nada de passeata pra baby one. Com a possibilidade de uma tal #ondavermelha aparecer... ninguém estaria seguro. Insanidade tem limite. Até a minha.


Só uma perguntinha: O PT sofre de bipolaridade? Isso foi algum ataque de esquizofrenia? Olha, não sou da área médica... me expliquem por favor. MAS se o povo na rua está pedindo a cabeça dos corruptos (petistas nominalmente e outros no geral)... como eles conclamam seus partidários para uma manifestação anti-corrupção? Sei lá, não faz sentido. Suicídio em cadeia nacional?
Outra coisa que me preocupou (bem, preocupou não...) foi que esse chamamento foi feito por petistas de segundo escalão, mas não por quem interessa. A chefa. Não o chefe. Se alguém tivesse que tomar a frente desse chamado (descabido) era ela, nem que fosse para tentar recuperar a imagem de comandante de alguma coisa depois do vexame de sair correndo no dia 18 atrás do Lula. Várias faixas e cartazes faziam referência justamente a esse... evento vexatório. O Collor, pelo menos, teve a coragem de ir pessoalmente pedir para "seu" povo ir para as ruas de verde e amarelo para apoiá-lo. Engoliu uma maré de negro e um impeachment como resposta. Mas ninguém duvidou que ele tinha aquilo roxo.

[Aliás, cadê a chefa da nação? Tomou doril hoje, ontem, anteontem... compreendo, também estaria com dor de cabeça no seu lugar.]

Vejamos o que observei... alunos, muitos estudantes. Alguns vieram em bando com professores a tira colo. Excursão escolar? Alguns bem fofos fazendo seus cartazes ali, na hora. Outros pintando o rosto com verde e amarelo. Todos com uma euforia pueril, como se fosse um tipo de Natal e o Papai Noel fosse surgir ali, do nada. Faltou pouco pra tia véia aqui dar parabéns e apertar as bochechas. Contive-me. É preciso respeitar a nova geração. Eles fizeram por merecer. Não tenho a menor noção da onde eles irão nos levar mas louvo seus brios e respeito sua indignação.
Três lindinhas faziam cartazes com cartolina rosa bebê (argh... toda solidariedade às feministas que se revoltarem) com dizeres da marcha das vadias. Sei que a Marcha está fora do movimento e que devem ter passado mal ao verem aquelas gracinhas (como diria Hebe) levantando seu nome na hora errada. Só que aí, me pergunto... porque aquelas crianças não podem ser simpáticas à causa e levantar essa bandeira quando e onde quiserem. Eu mesma concordo com boa parte que elas defendem. Espero que depois as meninas não levem esporro bronca da central das vadias.


Fiquei ouvindo as conversas... tá, desculpa.
Acabei chegando perto de uma turma do dce da unb (não resisti...). Algumas meninas discutiam. Uma única usava camisa vermelha e repetia um discurso tão arcaico que cheguei a bocejar... aff. Incitava os demais a deliberarem, a formarem um conselho, uma plenária, a escolherem pauta deliberativa, líderes para negociação, enfim... o mesmo rami rami de sempre. Duas concordavam embasbacadas, os demais... nem prestaram atenção. Quase soltei um glória, aleluia ao Senhor! Talvez, talvez, eles tenham salvação. Tomara!
Outro detalhe, essa mesma neo agitadora procurava convencer o grupo de que a manifestação não deveria ser no Congresso e sim nas portas da Câmara legislativa do DF. Como assim, queridinha? Foi solenemente ignorada. Salve, salve!

Falando em vermelhinhos... eram tão poucos que nem fizeram marola no planalto central. Vi umas bandeiras da une (azuis) e um ou outro sindicato oportunista. Tiveram a viola enfiada no saco antes de chegarem ao gramado do Congresso. Tive também o privilégio de ver uma cena inédita. Só isso valeu a noite. Um cinegrafista da cut com outra camisa por cima, tampando sua vermelha. Ele começou a filmar a meninada. Não resisti, avisei aos que estavam por perto... Cuidado, ele é da cut (sorry, sou do malz). A criançada fechou a cara na hora. Acho que estraguei o filme do cara. Ueba!

Teve até um grupo de cristãos (evangélicos?) cantando hinos de louvor e defendendo o Feliciano no meio da marcha. Céus, isso que é coragem. Até onde vi ninguém destratou muito eles. Meninada quase tolerante, aprovei. Falando em tolerância religiosa... acho bom o Feliciano não botar o nariz pra fora na capital. A única bandeira que pode continuar de pé além da nacional... foi a do arco íris gay. Ah, nem preciso comentar sobre os cartazes contra a tal "cura gay" (sei que não é nada disso, mas... ). De longe os mais hilários. Não que o assunto seja motivo de piada.

Falando em cartaz. Ai, que vontade de chorar por estar sem máquina. Estavam um show. Se pudesse premiaria um... que criatividade a  da menina. Pegou a foto daquela cara feia que a Dilma fez quando levou vaia no estádio Mané Garrincha (para mim o nome não mudou, apesar da FIFA), transformou em caricatura desenho  (bem feita por sinal!) e escreveu embaixo:  Dilma, engoliu o Vinagre?!? O V, claro... era aquele todo caprichado dos Anonymous. A nossa mal amada presidente foi o alvo da maioria dos cartazes de classe esculhambatória. A imagem dela está meio totalmente suja. Seu marqueteiro vai precisar de quilos de omo total pra dar jeito na mancha. E não há garantias de remoção completa. Em alguns senti mesmo um sentimento que ultrapassava o despeito, piada, galhofa e beirava a... raiva. Um perigo isso. 
Claro que tinha uma turma mais séria com faixas pedindo para que tirassem as mãos sujas da ficha limpa, pedindo a prisão dos mensaleiros condenados, o fim da corrupção, menos impostos, a investigação do superfaturamento das obras da copa (pediam até cpi), investimento nisso e naquilo, contra a PEC 33, 37, etc.

A mensagem geral que pude perceber era... caímos na real, acabou o carnaval, chega de zorra total. A juventude rasgou a fantasia. E parece que a fantasia rasgada não foi apenas a dela, foi a do país inteiro. Acabou a ilusão. Estamos nus, pelados com a mão no bolso (vazio) com o mundo inteiro nos observando. Espero que isso seja verdade, mesmo.  E torço para que o saldo final seja positivo. A esperança é a última que morre.

A bobagem anunciada de que os brasileiros estavam na rua por vinte centavos ruiu completamente. E junto com ela foi destruído outro mito... o de que o PT era o dono e senhor dos movimentos sociais. Se ainda o é, é apenas dos movimentos a soldo, bem financiados pelo governo. Pergunto-me, depois de não ver a sombra deles hoje... onde foram parar: Tenho pena (mentira) das explicações que o Gilberto Carvalho está dando (ou inventando) para a chefa nessa noite. Será uma looooooooooooonga noite para todos os petistas. Será uma noite sem sono também para seus aliados e para a pífia oposição.  Ninguém está bem na foto, ainda que uns estejam piores que os outros. Se dormirem, espero que tenham pesadelos. É o mínimo que merecem. Eu, aqui, estou com insônia!

A concentração de manifestantes ultrapassou em muito a dos tempos do Fora, Collor. Como cara pintada de 92 posso garantir, é fato. Nunca vi tanta gente como na noite de hoje ontem. Record de participação. Never nunca na vida! Não sei quantos, 30 ou 40 mil, não importa, foi um espetáculo! Lindo de ver, lindo de viver. Belo até. Assustadoramente belo. Terrivelmente belo. Uma garota levava um cartaz escrito... a cobra vai fumar. Será que ela sabe o que isso significa. Se souber, o arrepio que me percorreu a espinha está justificado.

Como o clima estava tenso devido aos infiltrados, fui direto pro meu lugar na arquibancada, na lateral esquerda (do lado do palácio da justiça). Sentei após me estarrecer com o efetivo de segurança pública. Estavam todos ali: PM, Choque, Cavalaria, PE, seguranças internos do próprio Congresso, Bombeiros, e acho que vi até uma turma da marinha. Alguns policiais federais à paisana (sem farda) estavam perto de mim. Sabia porque além deles portarem o distintivo... estavam avaliando a situação, o linguajar é familiar ao militar, inconfundível. Tinham carros de polícia fechando a rampa do Congresso Nacional. Arrepiei (de novo). Se a meninada resolvesse fazer outra rave na laje, iria acabar em morte certa. Impossível invadir. Qualquer um  era capaz de ver isso. Rezei para que ninguém ali fosse irresponsável a esse ponto. Qualquer confronto transfiguraria a manifestação em... massacre. Invadir naquelas circunstâncias seria o princípio de uma revolução.

Obrigada, queridos, mas estou dispensando uma guerra civil. Espero que ainda seja tempo de se contornar isso. Espero, não garanto. É o tipo de engano que... não se sabe como começa mas conhecemos o fim: sangue derramado. Isso interessa a quem? Melhor pensar com calma...

As cenas de segunda feira se repetiram... gritos de fora-corruptos, fora-mensaleiros, fora-renam, sobrou pra todo lado, inclusive pra presidente. Pena que acústica ali é um porcaria... apesar disso acho que até a Dilma (que disseram estar no palácio do planalto reunida com a Gleici e outros num gabinete de crise) conseguiu ouvir a cantoria. Cantaram o hino nacional. Lembrei de uma idiota pessoa comentar que só facistas cantam o hino, que isso é coisa de patriota burguês despolitizado. Queria que cantassem o quê? O hino da internacional socialista?  De pé, vítimas da fome, de pé famélicos...
Poupe-me!

Ah, vou fazer outra pausa... outro cartaz impagável: Não recebi minha carta de Hougrats mas cansei de ser trouxa! Potter rules. Humor é tudo. É assim que escreve Hougrats? Estou cansada demais pra conferir.

Os agitadores dentro do laguinho seguiam provocando a polícia. Jogaram água, foram vaiados. Tentaram forçar a passagem, foram impedidos. Tudo se repetiu, só que em maior intensidade e quantidade, até que... um bandido no meio da geral começou a mandar rojões (fogos de artifício) para cima da polícia. Levou vaia da galera, ouviu um coro de "sem violência" em alto som. Tudo se acalmou por algum tempo, até que... outro rojão, e outro, e outro... Era notório que a provocação e o perigo da situação (não demoraria a ferir um policial e aí... já era) indicavam que os baderneiros não iam mais parar apesar da desaprovação da maioria. A escuridão e a multidão eram a camuflagem perfeita para eles. Vontade de dar uns tapas no gênio da raça que mandou (na segunda foi igual) apagar as luzes da esplanada para "desestimular" a manifestação. A escuridão só serviu para proteger os bandidos. Aconteceu o inevitável, a polícia partiu para cima... primeiro com gás de pimenta. Depois veio o lacrimogêneo. Mesmo longe a fumaça  (trazida pelo vento), o gás me fez chorar, os olhos arderam imediatamente, a garganta sofreu... estou meio rouca. Não recomendo a experiência, é horrível a sensação, e olha... repito, estava bem loooooooooooonge da fumaça.

O instinto já estava dando alerta máximo, com razão, e resolvi que era hora de sair (eu e o resto da galera do bem, claro) segundos antes do lançamento do gás lacrimogêneo. Corremos um pouco, eu e os vizinhos do meu lado. Claro, que naquela altura do campeonato a gente já estava amigo de infância (só brasileiro mesmo é capaz disso)  e trocando impressões sobre o desenrolar dos eventos. Uma meninada bonita, alguns engravatados, funcionários públicos e um vovô aposentado. Esse disse que ia pedir pro neto abrir um facebook pra ele poder acompanhar a manifestação pela internet. Oh, coisa linda! Não fugimos da polícia, que não veio atrás, ainda que a esplanada estivesse completamente cercada, se quisessem nos sufocar...  era só fechar o cerco, não ia sobrar um pra contar história. Corremos mesmo foi dos vândalos, eles que eram o perigo. A multidão fez meia volta volver e saiu em direção à rodoviária, pelo gramado. Chegando em casa, vi pela TV que seguiram caminhando pelo Eixão Sul. E assisti, estarrecida... o absurdo que fizeram com o Itamaraty. Indesculpável, absolutamente injustificável, que raiva!
Espero que a polícia prenda todos!

No retorno, enrolada no pavilhão nacional, ouvi a pergunta mais estúpida de toda minha vida. Três animais chegando para a bagunça e caminhando em direção ao Congresso - naquela altura do campeonato só ficou pra trás bandido que queria encrenca grossa - indagaram se eu não tinha vergonha (VERGONHA!!!!!!!!!!!!!!!!) de me enrolar naquela bandeira do BRASIL. Um país imundo, gritou outro, com bandana escondendo o rosto. Não preciso nem dizer a cor de suas camisas.
É, né.

Encerro com um pedido à presidente. Por favor, fale algo. Logo.
Venha em rede nacional de rádio e televisão posicionar-se sobre a manifestação antes que isso vire uma revolução. É só sua a responsabilidade de vir à frente de todos e solucionar a situação. Não alimente os radicais (de quaisquer lados) e traga a paz de volta ao país. Mas, cuidado com o que for falar e como for falar. Não é hora de discursar para seus partidários ou pra sua patota que está com os aplausos prontos. É o momento de entender que o cargo que ocupa vai além dos interesses do partido que a elegeu ou do seu padrinho político. A senhora precisa falar pra todos os brasileiros. Todos. O momento é grave, exige no mínimo um discurso do gabarito de um Kennedy com o coração de um Luther King. Se errar na mão nessa hora... há grandes chances do caldo entornar. Não quero isso, de modo algum. Ninguém quer isso, espero.
Por favor, seja grande, seja humana. E seja rápida.
(imploro para que NÃO use o teleprompter, porfa... tenha dó!)
Rezo, sinceramente, para que tenha sucesso.

Fiquemos todos com Deus.

Assinado: Uma pequena burguesa da classemédiasofre que está de saco cheio de ser chamada de reaça. 

2 comentários:

  1. "dentro de qualquer outro palácio pelo país afora... sabe muito bem o que o povo quer e exige. E eles estão com medo. Medo porque não conseguem... fazer negócio com as ruas", perfeito! Ótimo texto.
    Jussara

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  2. Palavras bem ditas, parabéns! Também me sinto como você, descubro-me com raiva de tudo isso e peço a Deus que me abençoe para não falar demais, porém as palavras de F.Pessoa não me saem da cabeça toda hora:
    "Tudo é ousado para quem a nada se atreve." (Fernando Pessoa)
    um abraço carioca


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