quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Ai, meus sais... perdida na selva de poliéster.

Lá vai um post da cigana creole doida, então apertem os cintos e... preparem-se. 

Estava no centro da cidade resolvendo umas paradas. Não, paradas não que isso parece coisa de traficante. Só faltou o mano na frase. Digamos, então, que estava cuidando de uns problemas ou melhor... cuidando da vida, que é um genérico menos comprometedor. Já fiz alguns protestos aqui sobre o preço extorsivo das roupas na city. Um abuso! Eis que de repente me deparo, em plena rua do Acampamento, com a maior muvuca na frente de uma loja cheirando a tinta nova. 
De longe senti o perigo, loja lotada no centro da cidade é pegadinha. Ainda mais quando o melhor point da rua atende pelo nome de Renner. Mas, curiosidade feminina é uma meleca... lá fui euz me meter na selva. Entendam, se não resisto a um Saara no Rio de Janeiro... Como vou resistir àquela novidade?
A loja realmente deve ser recém inaugurada, pelo nome já senti um arrepio... um k e dois tt no final, um chamariz pro povão. A vitrine estava bem montada, levei um choque com tanta estampa e cores. 
Quando percebi a Sandra Rosa Madalena que vive incubada dentro de mim cresceu e apareceu. Help!
É sempre tempestuoso quando a gipsy queen toma as rédeas... acabo me arrependendo depois das compras, fato. Apesar disso, acho que meu guarda roupa não teria a menor graça sem esses arroubos que me dá, de quando em quando.
Enfim... a loja estava lotadaaaaaaaaaa e só pode ser definida como a Casa da Alegria do Poliéster. Nunca vi tanto poliéster e tecidos sintéticos juntos. Alguns barris de petróleo em forma de tecido foram gastos ali.  Depois os eco-xiitas ficam reclamando das peles naturais. Deveriam é lutar contra o uso indiscriminado dos tecidos sintéticos. Falando nos eco-chatos, li outro dia que eles estão propalando uma nova tese radical - não ter filhos - pois o impacto de um filho no mundo é mais grave do que qualquer outra ameaça à biosfera. Primeiro meu queixo caiu, depois ri muito. No momento estou dando 100% de apoio. Por favor, verdes: não procriem! Façam esse favor para humanidade.
Voltando à loja... Não sabia se estava no inferno de Dante ou no paraíso brega. Uma parte de mim dizia corre: Run, Forest, run! Outra queria bater palminhas de felicidade. Algo me diz que o próximo verão vai ser be happy. Muitas estampas de lenço. Adoro estampas de lenço. Tinha vestidos, camisas, saias paerô (É assim que escreve, Madi?). Adoro essas saias, voltaram!!! Problema... tudo em poliéster. Assim não dá pra ser feliz. Acabei achando que a saia era a melhor opção. Gosto de estampas na parte de baixo...  Why?
Bem, o motivo é que me acho (me vejo assim, não adianta dizer que não é...) grande em cima. Sabe, ombros largos de nadadora. Nada contra, acho meus ombros e costas lindas, mas... não uso estampas nessa parte, acho que pesa. Quando me olho no espelho vejo basicamente um caixote de madeira mais largo em cima mal equilibrado em dois palitos de picolé. Pesada, sem cintura. Tá, me dizem que não é bem assim. Mas é o que vejo. Por isso, estampas e peruagens em geral só no andar de baixo. Faz sentido? Faz pra mim.
Acabei pegando a saia para analisar. Essas bobagens que a gente faz. Como se não bastasse ser 100% petróleo... as costuras eram de matar. Assim não dá, assim não pode. Deixei ela lá e fui caçar um tecido que lembrasse, ainda que vagamente, um algodão, uma fibrinha natural... essas coisas old style.
Depois de mexer e remexer a loja achei!!! Uma saia linda, longa, a cor era algo entre azul turquesa e verde água. Adoro azul turquesa, verde água, coral... um amarelo ou verde fluorecente, então, nem se fala (vivas para os anos 80), acho tudo de bom. Perfeita a saia, babei! Fiquei namorando... pensei até em experimentar. Não tive coragem... motivo? Só tinha uma coisa maior do que a fila de pagamento e de crediário... a dos provadores. Mas aquela saia era algo para se pensar com carinho... ela ficou lá, no fim. Decidi que já tentei isso de saia longa no verão e não combina... muito bonito nas fotos, pouco fresco na vida real. Além disso, acho que verão é pra por as pernocas de fora. Saia longa, out!
Prossegui na caçada. Pra quem já farejou vestido de noite da Calvin Klein (a 50 doletas) na Ross dress for less de Orlando, essa loja não chega nem a ser um desafio decente. 
Pausa pra um momento recordar é viver. Mamily, a toda poderosa Doña Stela I, diz que desde os dois anos (deve ter sido a primeira vez que ela teve a infeliz ideia de me levar às compras) sempre que entro numa loja, se euz apontar para algo e disser que foi daquela peça que gostei... pode apostar, é a mais cara da loja. É praticamente um dom natural. Não sei explicar o fenômeno, mas é real.
Pois bem, no meio daquela floresta de poliéster encontrei um vestido lindo, de algodão levinho, com uma estampa tropical perfeita... na medida, sem exageros, modelo chemisier. Decididamente ele estava na loja errada, parecia mais um desgarrado da Chocolate. Era longo, mas dava para deixar os botões abertos para refrescar. Um charme! Ou mesmo num momento de crise, poderia mandar cortar e fazer a bainha. Era lindo, corte e costura impecáveis. Não achei um defeito... estava realizada. Era ele, decidido! Em cima tinha uma placa... com o preço " a partir de 39,00 reais". Não achei etiqueta no objeto do meu desejo, e fui atrás de uma vendedora (tinha mais segurança do que vendedora no local). Claro que imaginava que (com meu histórico) o preço seria uns... 139 reais. Mas valia, super justo. Aí tive um piripaque quando fui informada que custava 359,00... Abuso! Ô, maldição, tem coisa pior do que ter bom gosto e não ter dindim? A mulherada em dia de glória enchendo os braços de vestidinhos de malha colante, dançando o funk do elastano e do cetim coreano (pano de forro de almofada, mas... tem quem aprecie uma porquera dessas) enquanto eu morria por dentro. 
Entendam, essa madame aqui é metida a pequena burguesa mas não passa de uma proletária. Uma decadente que ainda lembra do que é bom, do toque da seda e do linho... Só que agora vai ter mil gastos com renovação de passaporte, visto, passagens de férias e cia. Não dá para ficar bancando a herdeira despreocupada. Meu sobrenome não consta de nenhuma lista da Forbes, meu cartão tem limite, não tenho parente político.  Com duas filhas há prioridades de gastos, opções precisam ser feitas e algo tem que ficar de fora, quer se goste quer não. Faz parte, aff. Deixei o belo de lado. Quem sabe depois? Naquele preço ia ficar mofando na prateleira um bom tempo (botei olho gordo, é meu e vai me esperar).
Mas a pessoinha é tinhosa, não desiste assim fácil... continuei na refrega, peleando naquele mar de estampas. Florais, tropicais, réplicas de lenço, muita onça e cia. Olha, até gosto de um animal print, mas ultimamente tenho me contido. O uso de estampa de onça e outras peles tem virado uma epidemia grave, dá até medo de sair na rua. Gente, calma... controlem-se, que a loucura da floresta já ultrapassou todos os limites. Confesso que adoro uma sapatilha de onça, sempre tenho uma. Quase chorei quando a última fez sua travessia final em 2010. Mas desde então tenho evitado repor a felina diante dessa febre nacional. 
O mesmo acontece com as caveiras. Putz, sou fã da Frida, amo o México, lindo e querido, adoro o mito da Catarina llorona e tudo mais, claro que junto a essas referências tenho também um certo lado rock'n roll. Caveira? Tô dentro. Tachas, metal e rebites? Me inclua nessa. Couro? Amooooo! Mas estão transformando as caveiras num acessório tão banal que tá até tristeza... Lamento feito.
Bem, acabei encontrando uma calça (de sarja?) num modelo que antigamente se chamava de pescador. Linda a estampa tropical com fundo branco. Coração palpitou novamente. Tenho uma queda por estampas tropicalientes. Deve ser fruto das altas horas vendo os filminhos do Elvis (no Havaí) quando era criança, saudosa sessão da tarde. Verão sem estampa tropical não rola. O preço tava bom, o chato é que não compro sem provar, ainda mais em loja desconhecida. Mas já é válido saber que tem algo de interessante a vista. 
Rodei a loja, consegui não se pisoteada pela manada desesperada... lá no fundo encontrei um vestido de festa passável. Sintético, é verdade, mas com uma estampa linda (não consegui reconhecer o bicho, mas além de não ser onça estava elegante...) e um belo decote em V. Olhei a etiqueta e uepa!, esse dá para comprar sem pesar no bolso. Fui procurar meu número... Cadê o maldito 40? Um médio talvez... nadaaaaa, o menor que achei foi 48. Sorte que antes de reclamar com as vendedoras (meio histéricas com o pandemônio na loja) olhei em volta e percebi que estava no setor plus size. 
Gente, a loja tem até setor pluz size!!! Que luxo, que coisa rara. E ele não fica nada a dever. Fiquei pensando que a Gazzy ia ficar uma gata no modelito. Não teria pra ninguém! Nem a Preta Gil se meteria a besta com a divosa de Curitiba naquele traje so sexy.
Aí, desisti... afinal de contas não ia mesmo entrar naquela fila, deixa pra outro dia, pro mês que vem de preferência.  
Quando estava saindo, dei uma última olhada na vitrine e vi ele. Como não tinha percebido antes? Ele sorria, me chamava... dava para escutar claramente: "Gê, me tira daqui, me salva, me leva pra casa!" Os olhinhos brilhando, piscavam de emoção... Foi a primeira vez que um cinto falou comigo. Juro! Estou habituada a bater altos papos com os sapatos, mas nunca antes tinha tido essa intimidade com um cinturão. Deixei-o lá, a própria sorte... clamando por mim, pedindo que o adotasse. Oh, mundo cruel! Sou uma desalmada. 
Ai, meus sais...

A boa nova é que depois de toda essa experiência o elfo-mariachi sumiu... acho que ficou lá na loja, perdido no Eldorado de poliéster.

Boas noites, que amanhã acordo antes das 5. Ser mãe não é mole não!
Feliz feriadão para os que puderem desfrutar da chance. 


Um comentário:

  1. Aiiiii que delicia de texto, e ainda tive a honra de ser citada nele..um luxo!!!!! Sério,Gê, tu escreves bem demais,guria,ri muito te imaginando no meio das mulheres enlouquecidas,com roupas voando sobre as araras,na selava de poliéster..ahahahaha..não consigo parar de rir...ah, e tenho um termo novo pra ti,já q adoras moda: as antigas calças pescador, como a gente chamava, agora são as "cropped"..que bestagem,é a mesma calça,só mudou o nome,pra se refinar um pouco..
    :))))

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